quarta-feira, 4 de abril de 2012

Semana santa

Por que mudou tanto?
Cobrir os santos que ficavam emoldurados nas paredes, era um dos cuidados que minha mãe tinha, durante a quaresma. Não podíamos ouvir música, dizer palavrão, nem fazer bagunça. Ir a uma festa, nem pensar! Era um desrespeito ao sofrimento por que passara o Senhor. Aos que bebiam, abster-se do álcool durante os quarenta dias, era uma obrigação.

Lembro que o início era a quarta-feira de trevas. Não se podia varrer a casa. Nem tomar banho. Podíamos ficar “entrevados”. Às quartas e sextas-feiras não se podia comer carne. Tinha de ser peixe.

Lembro da Via Sacra, realizada uma vez por semana, às sextas-feiras, durante a quaresma, quando fazíamos uma caminhada dentro da Igreja, com paradas nos quadros que indicavam “as estações”. Alguém fazia a leitura: “Jesus cai pela primeira vez”, “Verônica enxuga a face de Jesus” e se seguia até que alcançássemos a última.

Na quinta-feira santa tinha a “Missa do Lava Pés” e a “Adoração ao Santíssimo”. O grupo de jovens da Igreja organizava uma encenação em que o Padre lavava os pés de doze fiéis, simbolizando os apóstolos.

Na sexta-feira da paixão, o dia do jejum. Cedinho tomávamos café com um pequeno pedaço de pão de coco, e tínhamos de aguardar até o almoço. À tarde se seguia também sem comer, só podendo fazê-lo no início da noite, numa ceia que encerrava as refeições do dia.

No sábado de aleluia a diversão, após a missa, claro, era ver a queima do Judas. Meu pai fazia um boneco e o deixava pendurado por horas até o momento de queimá-lo. Antes disso, era lido seu testamento, que meu pai mesmo escrevia, fazendo rimas engraçadas, usando o nome dos moradores da nossa rua.

Ninguém explicava as razões para tantos rituais religiosos mas, como filhos obedientes, seguíamos as orientações dos nossos genitores. Tempos depois entendi que a ideia era participarmos das angústias e dores de Jesus, para também podermos participar da sua glória, quando da ressurreição.

Evocar essas memórias é reviver um tempo em que a inocência fazia de mim uma pessoa mais crente, e menos questionadora.

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