O São João perdeu o sentido original. Aqui, debaixo dessa chuva, tentando acender minha pobre fogueira. Pobre, porque nesta ampla avenida restou apenas esta. Apagaram as fogueiras, mas acenderam as armas.
Sou daqueles que viveu o fim de uma era áurea em que as famílias se vestiam de festa com rigor, simplicidade e afeto. No ar pairava os aromas típico da época. Nas ruas, todos cuidavam na preparação dos detalhes para a noitada de sadia festa. Palhoções, ruas enfeitadas, quadrilhas ensaiadas, fogueiras feitas. Mais do que ações: o sentido da festa, que unia ainda mais as famílias em comunidade.
Se foi o tempo e eu aqui a pensar. Retalhos de uma infância sofrida, mas bonita, povoada por costumes e tradições que não esqueço. Cadê os enfeites das ruas? Em qual quintal estocaram as fogueiras? Em que restaurante se prepara de forma qualquer as iguarias de milho?
As canções não são mais as mesmas. O forró foi “estilizado” e a canção se aposentou. Calaram os poetas e abriram o baú da depravação ou pornofonia, como queiram. Se esse “pseudoforró” que se toca nas festas faz sentido..;belisquem-me: acho que estou num pesadelo e preciso acordar...debaixo da chuva acendendo a última das fogueiras da minha rua.
Os festejos juninos nas cidades estão minguando. Apenas se transformaram em átrio de mega produções com a roupagem de “juninos” – roupagem sem conteúdo. Os palhoções foram abolidos. A moda são “tendas eletrônicas”. Muito me espanta a cidade com o título de ‘Capital do Forró” se render a um modelo que de junino não tem nada. Falo de Caruaru.
Os fragmentos do tempo que restaram. Uma confusa colcha de retalhos sem brilho ou cor. Que saudades do São João das comadres, dos bacamartes, dos vulcões e fogos de vista. Lembranças das famílias à porta acendendo a fogueira, milho assando ao som do antigo pé-de-serra. Da paz de uma simplicidade hoje alheia.
Viva o São João...o de antigamente.
José Batista de Souza Neto
